O Deficiente Visual e o Direito a Inclusão Escolar
- Adriana Araujo
- 19 de fev. de 2015
- 17 min de leitura

São exatamente 10 horas da manhã, hoje 13 de dezembro. Para mim uma data muito especial, do aniversário da minha mãe. Hoje é o dia de Santa Luzia a padroeira dos deficientes visuais. Neste mês comemoramos o Natal e muita gente recebe o décimo terceiro salário e é para muitos um mês de reflexão e muitos acham de praticar a bondade, de fazer uma boa ação apenas neste período, quando se encontram mais sentimentais. Ajudar ao próximo é algo que eu posso fazer todo dia e é assim que devemos ser. Enfim, o Natal é um momento muito lindo e encantador, de maior união e de mais amor.
Vamos debater neste dia sobre os direitos dos deficientes visuais e portadores de necessidades especiais. Eu quero que você imagine como é a vida de um deficiente visual. Eu sei que é difícil e estas pessoas não perdem suas forças, continuam na batalha de todos os dias. Nosso objetivo é dar uma luz no tema e vamos saber o que mudou, mudou alguma coisa? Será que temos novidades? Daqui a pouco vamos conversar sobre o assunto, antes, vamos a uma reflexão.
O Perfeito
A pessoa com deficiência, vale a reflexão, se precisamos de um dia para lembrar-se delas, é porque durante o resto do ano ainda marginalizamos, não reconhecemos que somos todos iguais e merecedores dos mesmos direitos e respeito.
Ainda estacionamos nas poucas vagas destinadas a eles, não por conforto, mas sim por necessidade, ainda colocamos “mimimis” nas calçadas para ficar bonita, mesmo que isso impeça a passagem de um cadeirante ou ocasione um acidente com um deficiente visual.
Ainda olhamos para a pessoa com deficiência com dó, acreditando que não tem o mesmo valor que nós, ou como heróis por serem capazes de fazer o que fazemos dentro de suas limitações. Sinceramente não gosto do dia da pessoa com deficiência, do negro, da mulher ou de sei lá o que, todos os dias devemos lembrar e fazer o melhor ao próximo independente de sua raça, sexo ou limitação.
Infelizmente acho que ainda é necessário sim, permanecer com essas datas, para lembrar aos ditos “normais” que essas pessoas existem e merecem que seus direitos sejam respeitados 365 dias por ano, é lamentável ainda ver um cadeirante se arrastar para subir em uma aeronave, vermos cadeirantes que não estão conseguindo se locomover em suas cidades nada acessíveis, que existem pessoas que não saem de casa, simplesmente por nem uma cadeira possuírem.
Sem duvida houve muitas conquistas nos últimos anos, hoje é bem mais comum encontrar uma pessoa com deficiência nas ruas, trabalhando e ganhando o seu sustento, exercendo sua profissão e contribuindo de forma ativa para a sociedade, mas estamos longe de podermos abolir essas datas, esses momentos de reflexões que nos fazem ver o outro como seres humanos iguais, que só clamam por serem vistos e respeitados, que sonham com uma sociedade justa inclusiva.
Agora quero dar um bom dia ao amigo Manoel Wambergue, um grande amigo, um humano, solidário, companheiro e colaborador do Diário Semanal. Esse programa é construído com muito amor por pessoas que estão cheias desse sentimento bom. Seja bem vindo Wambergue e daqui a pouquinho vamos conversar com os nossos convidados.
Manoel Wambergue: Bom dia Adriana e ouvintes, particularmente aos ouvintes do campo, depois dessa chuva aumentaram os problemas para se chegar a cidade, mas, por outro lado, já estávamos precisando da chuva. Todo sábado quando acordo eu penso que vou ter um dia muito bacana, vou pra rádio e isso é bom, é gostoso. Os assuntos tratados realmente informam pra nós da cidade e do campo. O Diário Semanal nos dá um apoio moral ao distribuir assuntos, informações corretas e nos mostram as coisas boas de Marabá. Muitos programas fazem denúncia disso e daquilo, de coisas ruins o dia todo e aqui nós falamos de assuntos do interesse da população e tratado sob o ponto de vista de pessoas gabaritadas. Já estão chegando aos estúdios os convidados e passo a palavra para você. Bom dia.
Adriana Araújo (Apresentadora): Vamos a uma rápida apresentação dos participantes de hoje, do Presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Marabá o Senhor Ademar Alves dos Santos, do Vice Presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Marabá o Senhor Nacélio Souza Madeiro, da Coordenadora do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão Acadêmica da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) a Senhora Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo e do Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Marabá o Dr. Adebral Lima Favacho.
A Acessibilidade aos Deficientes Visuais ainda é uma realidade distante de muitas cidades
Adriana Araújo (Apresentadora): Vamos iniciar o nosso debate sobre o direito à inclusão escolar dos portadores de necessidades especiais. Já existem muitas garantias legais aos portadores de necessidades especiais, desde o estabelecimento de cotas nos concursos públicos, do atendimento educacional especializado e maior acessibilidade. Parabenizamos os que respeitam e cumprem a legislação, como por exemplo, o Shopping Pátio Marabá que oferta vagas nos estacionamentos, entre outras facilidades de acessibilidade. Agora quero ouvir a opinião de vocês, temos uma realidade bem melhor do que há dez anos, por exemplo?
Sr. Nacélio Souza Madeiro (Associação dos Deficientes Visuais): Realmente a gente vê que de 10 anos para cá muita coisa mudou. As pessoas com deficiências passaram a ser vistas com outros olhos, mas, ainda existe o preconceito em relação aos deficientes e esse paradigma está sendo mudando aos poucos. Somos pessoas competentes e com capacidades de desempenhar funções na sociedade. O deficiente está buscando os estudos, já temos pessoas cursando o ensino superior, muitas no mercado de trabalho e tudo isso não aconteceu por acaso, foi fruto de muitas lutas e, ainda há muito coisa para melhorar em nossa cidade.
Adriana Araújo (Apresentadora): Na atualidade vemos uma filosofia a orientar às políticas públicas, de prometer igualdade de condições aos portadores de necessidades especiais e isto aparece nos planos educacionais, parecendo discurso político. O Diário Semanal ainda vê a coisa com “uma tentativa de inclusão social” que, na prática ainda é muito mais difícil ou logo é esquecido por nossas autoridades. Quais são os gargalos que podemos levantar como cruciais para uma verdadeira política de inclusão social do portador de necessidades especiais? Realmente podemos considerar que existem essas políticas ou programas oficiais de governo ou é apenas a letra fria da lei?
Dr. Adebral Lima Favacho (OAB/Marabá): Foram criadas muitas oportunidades, a lei avançou bastante e o nível de conscientização da população também aumentou. A lei tende a se modificar e se adequar a realidade, muito embora, a própria Constituição já prevê isso no artigo 203 quanto ao atendimento das necessidades especiais e de outras leis que complementam a Carta Magna. Mas, muita coisa está atrelada ao poder público a execução da lei. O direito existe e é pautado na lei, mas, fica bloqueado dentro do executivo ou do judiciário em razão da previsão legal. Tem que haver um planejamento, um orçamento, a lei prevê e a coisa não acontece.
Sra. Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo (Unifesspa): Eu sou pedagoga, tenho Mestrado em Educação Especial e estou concluindo o Doutorado pela Universidade de São Carlos. Você demarcou os últimos 10 anos e eu retomo 20 anos atrás, do marco legal com a Declaração de Salamanca com todas as críticas, foi um marco para o início de muitas mudanças no cenário das pessoas com deficiências. Depois de 1994 com esse marco legal a gente vê 20 anos e ainda há um hiato, como disse o colega, entre a previsibilidade legal garantida em lei e a materialidade desse processo. A gente encontra uma série de obstáculos, de questões, de gargalos. E qual o principal elemento dificultador? Eu digo que não faltam informações às pessoas, falta disposição para acessá-las esses direitos, fazendo o cotidiano, seja o cidadão, o educador e superar os obstáculos que há nas condições e nas relações que se estabelecem com os deficientes é o grande obstáculo, o da atitude.
Eu vou citar um exemplo a respeito da atitude das pessoas. Na universidade ocorreu uma situação. O Nacélio estava chegando e no corredor havia um grupo de pessoas conversando e não se afastaram para o Nacélio passar. Ele que é deficiente visual teve que desviar das pessoas. Como podemos ver, ainda falta muita consciência das pessoas. Há muitas conquistas, realmente, há formação de professores, programas pensados pelo governo e ainda assim são muitos os obstáculos para essa materialidade.
Dr. Adebral Lima Favacho (OAB/Marabá): Os gargalos, ainda há muitas dificuldades para aplicar a lei. Temos o fato social da educação e das relações humanas. Testemunhamos pessoas com formação superior, alto nível social e estas se mostram incapazes de serem dignas e acabam impedindo o acesso dos deficientes, mesmo àqueles que estão cursando uma universidade.
Sr. Ademar Alves dos Santos (Associação dos Deficientes Visuais): Ouvindo o que foi falado, às vezes a gente escuta uma frase, que a educação vem do berço. Eu ando nas ruas, às vezes com uma bengala de auxílio e eu tenho que me desviar das pessoas. Eu não sei dizer com certeza a razão disso, talvez seja a falta de educação das pessoas.
Dr. Adebral Lima Favacho (OAB/Marabá): Sobre o outro questionamento, se há políticas ou programas oficiais de governo em Marabá, consultei a área da educação municipal, detectei que não existe um planejamento direcionado ao atendimento das pessoas com necessidades especiais. Os professores que eu consultei me disseram que há uma turma atendendo, é uma equipe de apoio que ora está no CAPS e ora está em uma escola. Existe assim uma equipe de apoio.
Nós temos a APAE, que presta um serviço mais especializado e sobrevive com grandes dificuldades e carências. O projeto dos surdos e dos mudos surgiu na Escola Jonathas Athias e não funciona mais neste local. A última informação que tive é que é destinado um local somente, que é no CAPS e tem uma equipe de apoio para essa educação especial. No município há uma deficiência, uma carência muito grande, mesmo tendo um número grande de pessoas precisando de atendimento.
Sra. Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo (Unifesspa): A política de Educação Especial na perspectiva da inclusão, aprovada em 2008 para regulamentar todo o sistema de ensino. É na área educacional que há mais leis, decretos e notas técnicas, o volume é elevado e mostra que o Ministério da Educação quando pensou nas leis, demonstrou que não possui os consultores ideais. O tempo todo está ocorrendo alterações, mudam uma vírgula de lugar, acrescentam terminologias diferentes e a própria referencia quanto os portadores de necessidades especiais, eles mudam.
Uma coisa interessante, quando a gente usa o termo “portador de necessidades especiais” que vem da Declaração de Salamanca, este termo abrange um grupo muito maior para atendimento na educação especial e isso inchava a educação especial, que eram pessoas com dificuldades de aprendizagem e não se tinha deficiência física, mas, dificuldade no aprendizado e eram meninos de rua, meninos com dificuldades linguísticas e tudo isso entrava no grupo de educação especial. Hoje está tudo demarcado, quem são as pessoas com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Dentro do grupo das pessoas com deficiências entra o deficiente visual.
O que a política versa, exige que o sistema de ensino ofereça? Essa é uma reclamação que os professores fazem. Como é que um profissional vai conseguir atender a diversidade das deficiências?
As pessoas com dificuldades visuais tem um centro de apoio pedagógico, o CAPS, é como se fosse uma instituição voltada aos deficientes visuais, com uma estrutura básica e dá apoio às escolas. Claro, com todas as dificuldades de não ter espaço acessível ao deficiente visual que tem o problema da mobilidade reduzida e que precisa se locomover, mas, tem dificuldades. Esses serviços estão previstos em lei e o CAPS tem as salas de recursos e ainda assim, são insuficientes. Por conta dos desafios destas diversidades de deficiências para atendimento, o professor não consegue estar preparado para tudo isso, apesar de haver os programas, faltam as condições para materializar a educação inclusiva.

Adriana Araújo (Apresentadora): Os portadores de necessidades especiais demonstram maior consciência de suas condições e, muitas estão na luta pela garantia dos seus direitos e a aplicação das leis. Ainda assim, muitos que poderiam vestir a camisa desta luta, por conta de uma situação privilegiada, como é o caso do cantor Roberto Carlos que teve a perna direita amputada ainda na infância, se omitem a tratar do assunto ou defender a causa dos portadores de deficiências. Quem são os maiores defensores desta luta no cenário nacional, estadual e municipal?
Nacélio Souza Madeiro (Associação dos Deficientes Visuais): Somos nós, a nossa Associação e agora o Conselho Municipal da Pessoa Deficiente. Realmente, nunca ouvimos o cantor Roberto Carlos em momento algum falando sobre as pessoas com deficiências ou lutando pela causa. Ele tem poder aquisitivo e não precisa brigar por nada. Os deficientes como eu e o Ademar estamos lutando pelo ônibus, espaço no mercado de trabalho e vamos ao encontro da lei para que ela funcione. No dia 12 completou-se 10 anos do Centro de Apoio Pedagógico para a pessoa com deficiência, que teve inicio na Escola Jonathas Athias e hoje funciona em um prédio alugado pela prefeitura, especificamente para funcionamento do CAP e ainda não é um prédio com piso acessível, tem desnível, e atende a pessoa com deficiência visual, desde a alfabetização ao fundamental, o ensino médio e dá algum suporte ao ensino superior.
A gente foi ao Ministério Público, eu, o Ademar e outros com baixa visão. O colega de baixa visão dizia que a pessoa estava de cara ruim e eu dizia que não tinha problema, eu não estou vendo nada. O que a gente precisa, a categoria das pessoas com deficiência, seja visual ou outra qualquer, é pressionar a justiça, para que se tenha uma promotoria específica para a pessoa com deficiência. Em Marabá que é uma cidade polo a demanda é muito grande, como em outras cidades, mas, são muitas as pessoas que precisam de atendimento. Existe a promotoria do idoso, da criança, da infância e é muita coisa para um promotor apenas. Já fizemos abaixo-assinado solicitando uma promotoria específica e fixa. O que a gente vê é, vem um promotor e passa 6 meses e vai embora. O procurador que você dar início agora vai embora, vem outro e tudo vai começar do zero. No Ministério Público há muitos processos nossos, do transporte coletivo, da retirada da catraca colocada em lugar indevido, o nosso direito negado no transporte coletivo, o direito negado de entrar no cinema com acompanhante e, quando um promotor vai embora e chega outro volta tudo pro zero e a gente também precisa de auxílio da OAB.
Dr. Adebral Favacho (OAB/Marabá): A família é o ponto chave da defesa e do cuidado do deficiente.
Dr. Adebral Favacho (OAB/Marabá): Sobre quem são os maiores defensores, são os deficientes em suas mais diversas categorias, muitas vezes nós, ou os próprios ouvintes que tem algum parente portador de deficiência, ou que possua alguma anomalia congênita ou adquirida. Os casos mais numerosos são as anomalias adquiridas por acidentes e por outras causas que evoluem. Quem deveria ser o defensor ou os defensores? As pessoas com deficiências? Sim. Porque é preciso lutar.
O Estado teria que ter essa responsabilidade, tem, pauta em lei e isso não é suficiente, é a lei fria nas páginas de um livro e não resolve. A família é o ponto chave da defesa e do cuidado do deficiente. Enfim, os defensores somos nós.
Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo (Unifesspa): A falta de acessibilidade é a negação do direito aos deficientes de mobilidade reduzida e visual, como também ao idoso, às grávidas e ao obeso.
Adriana Araújo (Apresentadora): Os prédios públicos são espaços destinados à todas as pessoas da sociedade. Não faz muito tempo, o Serviço de Atendimento ao Cidadão em Marabá era um prédio sem condições de acessibilidade, havia uma rampa com uma inclinação absurda.Os espaços públicos já oferecem a acessibilidade necessária, ou seja, as Escolas, a Câmara de Vereadores, a Prefeitura e as Secretarias Municipais já estão adaptados? E o transporte coletivo municipal já possuem as rampas de acesso?
Nacélio Souza Madeiro (Associação dos Deficientes Visuais): Eu critico o transporte e o poder público municipal. O transporte coletivo, a frota de veículos já conta com a acessibilidade, com a rampa de acesso aos cadeirantes e, não sei aonde eles encontraram uma lei, que diz que essa porta só pode dar acesso ao cadeirante, é uma porta com elevador e só é usada por cadeirante.
As paradas de ônibus não são adequadas, adaptadas, aos descer de um ônibus o cadeirante não vai ter vida fácil. As calçadas estão adequadas para uma pessoa sem deficiência pública. Sair do ônibus e, se quiser ir pela calçada vai ser muito difícil.
Agora a crítica ao executivo municipal é que ele prometeu na mídia que faria a revitalização das calçadas da Velha Marabá e o recapeamento da via, mas, o acesso do pedestre ficou até pior com a calçada nova, para um cego está muito ruim e para quem é cadeirante também, é preciso disputar espaço na calçada e até na via pública com os carros. É uma vergonha.
Ademar Alves dos Santos (Associação dos Deficientes Visuais): A acessibilidade, pouco tempo atrás não se falava muito e não existiam muitos acessos. Para o cadeirante qualquer obstáculo é uma grande dificuldade. O cantor Herbert Vianna hoje é um cadeirante e hoje sofre com esta nova vida e não é fácil.
Eu conversei com um engenheiro civil, me disse que hoje olha a questão da construção civil de modo diferente, muito mais consciente quanto a acessibilidade, agora ele é um cadeirante e consegue ver coisas que não via a 10 anos atrás.
Quanto aos cegos, ainda falta em muitos prédios o piso, os tachos. Já há nas agências bancárias, em alguns estabelecimentos, mas, é muito pouco ainda diante do universo de uma cidade como Marabá. O piso táctil é uma necessidade para o caminhar de um deficiente visual.
Quanto aos coletivos, houve avanços, mas, não são todos os ônibus que possuem a rampa de acesso, são apenas alguns e, decaiu, por outro lado. Em muitas cidades que andei, apenas em Marabá temos o ônibus com duas catracas. A gente passa por uma catraca com dificuldade e tem que passar por outra para sair. Eu não sei por que é assim.
Dr. Adebral Lima Favacho (OAB/Marabá): A estrutura geral do município não contempla essa acessibilidade aos deficientes. Temos as ruas, embora a campanha Xô Poaca, os Centros Comerciais não estão aparelhados, até mesmo as sarjetas, ruas irregulares e com buracos, esgotos a céu aberto e, não temos espaço. É preciso disputar com os veículos, motos e bicicletas para andar na cidade toda. Deveria haver a sintonia do poder público com os empresários em relação ao urbanismo e a acessibilidade.
Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo (Unifesspa): A falta de acessibilidade é a negação do direito aos deficientes, de mobilidade reduzida e visual, como também ao idoso, às grávidas e ao obeso. Os espaços públicos e privados, por força de lei estão sendo cobrados pelo Ministério Público. A Unifesspa foi acionada porque não estava adotando as medidas legais. Foi estabelecida uma meta para que até o final de 2015. Hoje a universidade ainda não tem a acessibilidade garantida aos acadêmicos e ainda precisa melhorar em termos de estrutura, bem como, de apoio do núcleo educação inclusiva e de acessibilidade, que ainda não tem a estrutura desejada pela Professora Hildete.
Na Unifesspa, recentemente foi inaugura o auditório do Campus 1 e já foram colocadas as rampas de acesso e outras medidas estão sendo feitas em prol dos deficientes visuais, motores e sensoriais.

Adriana Araújo (apresentadora): Este é o final do programa acerca das dificuldades dos deficientes visuais e físicos e sobre a inclusão escolar. Existe algum programa em âmbito municipal na área da saúde, visando ao atendimento oftalmológico e ao fornecimento gratuito de óculos para estudantes de Educação de Jovens e Adultos com essas necessidades, conforme premissa do Plano Municipal de Educação?
Nacélio Souza Madeiro (Associação dos Deficientes Visuais): Deveria ter. Deveria ter um quadro de profissionais, especialista na área da deficiência visual, mas, infelizmente, nem sequer um médico havia há seis meses, para a emissão de um laudo oftalmológico para comprovar que a pessoa era cega, como critério para se inscrever em concursos públicos, conforme constam nos editais.
A carência é muito grande em Marabá. A própria Secretaria Municipal de Saúde não contava com um médico oftalmológico para esse atendimento. Nós fomos à imprensa e reivindicamos e, dois dias depois foi liberado um médico para atender os deficientes visuais.
Atualmente eu não posso garantir que esse atendimento esteja funcionando. Era um médico que tinha uma clínica e prestava esse serviço à prefeitura. Eu não sei se está atendendo. As pessoas podem procurar, a clínica funciona na Folha 29, próximo ao cemitério, a consulta é grátis, mas, os óculos não. É um convênio com a prefeitura e é muito burocrático, tem que marcar em um posto de saúde e depois é encaminhado para a secretaria de saúde e, tudo demora de 2 a 3 meses, simplesmente para se conseguir esse laudo.
Adriana Araújo (apresentadora): Considerando as condições das ruas, das calçadas, dos estacionamentos, das praças públicas e agências bancárias chegamos a conclusão que a coisa não está fácil para os pedestres, quanto mais para quem possui algum tipo de deficiência física ou sensorial. Como o poder público recebe as queixas e reclamações? Existem canais para reclamação, fóruns ou seminários ou congressos que visem a discussão de medidas para modificar essa realidade?
Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo (Unifesspa): Você trás uma informação, uma análise precedendo essa discussão. O espaço urbano e rural ainda estão inacessíveis e não há políticas sérias destinado a isso. Eu esqueci de mencionar que integro o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, que se constitui em um canal pouco conhecido, até desconhecido na sociedade marabaense, que foi criado há um ano e meio e ainda estamos no processo de instalação. Agora, recentemente, depois de muito exigirmos da Secretaria de Assistência conseguimos uma sala nesta secretaria, é um canal grande onde as famílias podem fazer denúncias.
O Conselho de Direitos da Pessoa com Deficiência funciona através das denúncias feitas ao Ministério Público que encaminha pra gente. Isto ocorre pelo desconhecimento. Acho que da nossa parte falta fazer mais divulgação. Depois que recebemos as denúncias do MP e a gente não dispõe de equipe de trabalho, ainda tentamos encontrar as condições para averiguar essas denúncias e encaminhar alguma coisa. Somos conselheiros e cada um tem sua função no seu local de trabalho. A gente se desdobra nos horários alternativos nas ações desse conselho. Não temos um secretário, não temos um motorista, carro e, enfrentamos todo esse conjunto de dificuldades e cada um vai tentando se organizar com carro próprio. Pedimos até o auxílio da policia para chegar em locais que não dá para ir sozinho. Estamos no processo de aprendizado de como ser um conselheiro de atividades específicas criadas agora.
Em relação ao fato da acessibilidade em Marabá, a gente fez um levantamento a pedido do Ministério Público. Chegamos a conclusão que grande parte dos estabelecimentos não são acessíveis. Visitamos espaços maiores como restaurantes, universidades, o shopping e muitas lojas da cidade, o relatório já foi entregue ao Ministério Público.
Nacélio Souza Madeiro (Associação dos Deficientes Visuais): Que pena que o programa esteja no fim. Para mim foi um prazer está com você Adriana Araújo, mais uma vez no Programa Diário Semanal e com os ouvintes da cidade, da zona rural e de municípios vizinhos.
Eu tive o privilégio de, nos meus 5 anos de universidade de ser bolsista do Núcleo que discute sobre deficiência visual. Foi um prazer trabalhar com a professora Lucélia que é a coordenadora do núcleo e dar a minha contribuição no Atendimento Especializado de Nível Superior.
Agradeço aos ouvintes e 2015 nós esperamos que a Adriana Araújo continue forte com a gente, parceria total. Aos ouvintes desejo um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, abrace o seu irmão, não só agora no Natal e no Ano Novo. Vejam sempre as pessoas com um bom olhar, não fuja do cego e do deficiente físico ou com outra deficiência. Amem as pessoas como elas são.
Ademar Alves dos Santos (Associação dos Deficientes Visuais): Agradeço pelo espaço concedido nesta manhã. Sobre as inspeções que fizemos, andamos por vários lugares e no Shopping. Fizemos uma cena para averiguar se existia um intérprete de libras. O segurança ficou envergonhado e, por lei, deveria haver a acessibilidade e de comunicação. Não encontramos uma pessoa do estabelecimento capaz de se comunicar, de conversar com a senhora que colocamos para fazer os sinais. Deveria haver vários intérpretes de sinais e os deficientes são pessoas que frequentam o shopping, vão às lojas, a praça de alimentação e ao cinema. O cego ainda consegue conversar e perguntar e consegue auxílio na bengala para andar, já o deficiente auditivo não consegue falar e faz uso da linguagem de sinais.
Nas escolas o deficiente auditivo fica perdido em sala de aula, perde o melhor que é a explicação do professor. Quando o conteúdo está no quadro ele consegue ver, mas, quando é explicado o assunto ele não pode ouvir. O poder público pode olhar melhor para essa situação e que os alunos surdos sejam mais bem assessorados nas escolas, nas empresas e nos órgãos públicos quanto ao uso da linguagem, como forma de incluí-los na sociedade.
Para mim foi um momento especial. Agradeço pelo espaço e desejo um Feliz Natal aos todos os funcionários da Rádio Itacaiúnas, aos marabaenses e que Deus abençoe a todos e em 2015 queremos voltar à esse programa.
Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo (Unifesspa): Eu agradeço pelo convite. A Universidade e o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência estão abertos ao diálogo e disponíveis para o trabalho conjunto. Esse espaço é importante porque informa e chega a muitas pessoas levando um tema fundamental, que é o dos deficientes visuais. Agradeço e espero que possamos melhorar nossas atitudes.
Dr. Adebral Lima Favacho (OAB/Marabá): Em nome da OAB agradeço pelo convite e pela oportunidade de contribuir com mais conscientização para a população. Prontificamo-nos a colaborar com os deficientes visuais quanto ao apoio jurídico. Obrigado.
Manoel Wambergue: O teu programa tem a mania de inserir assuntos difíceis, desta feita mais um tema tabu foi debatido no dia de hoje. O seu programa trás gente importante que sabe o que fala, é gente gabaritada.
A mensagem que eu escutei neste debate foi sobre o que é ser normal e, de repente, ser normal é ser diferente. Foi isso que eu entendi.
Deixo agora um recado aos políticos e responsáveis: a lei é muito boa, mas, não me venha com leis sem orçamentos porque não resolve nada.
Agora eu desejo Feliz Natal para todos os colonos, para todos os ouvintes do Diário Semanal e que venha um ano melhor pela frente.
Adriana Araújo (apresentadora): Eu quero desejar muita saúde neste Natal, dinheiro no bolso está difícil, os colonos são trabalhadores que lutam muito para produzir o seu alimento e o nosso alimento diário.
Eu espero continuar com este programa em 2015, sei que tem grande audiência, é elogiado por muita gente e considerado importante, como de utilidade pública. Mas, são muitas dificuldades para manter esse programa. Eu digo que o Diário Semanal é feito para vocês, feito para ajudar a esclarecer aos muitos que não possuem acesso ao conhecimento.
Enfim, neste dia me vem a lembrança do aniversario da minha mãezinha, pessoa que eu amo muito, falo com ela todos os dias. Que Deus abençoe a minha mãe e minha amiga de todas as horas. Feliz Natal e Feliz 2015!!! Tchau!!!
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