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A família nos dias atuais


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Adriana Araújo: Vamos começar o programa de hoje. Vamos falar de valores, vamos falar de nosso bem maior e todo mundo tem a sua: Família. Em nosso debate traremos à tona por meio do debate, formas de valorização da família dos dias atuais. Começando o Diário Semanal vamos a um texto para reflexão:

A família é o nosso maior bem!!!

Eu estava correndo e de repente um estranho trombou em mim:

- Oh, me desculpe, por favor, foi a minha reação.

E ele disse:

- Ah, desculpe-me também, eu simplesmente nem te vi!

Nós fomos muito educados um com o outro, aquele estranho e eu. Então, nos despedimos e cada um foi para o seu lado. Mais tarde naquele dia, eu estava fazendo o jantar e meu filho parou do meu lado tão em silêncio que eu nem percebi. Quando eu me virei, tomei o maior susto e lhe dei uma bronca.

- Saia do meu caminho filho!

E eu disse aquilo com certa braveza. E ele foi embora, certamente com seu pequeno coração partido. Eu nem imaginava como havia sido rude com ele.

Quando eu fui me deitar, eu podia ouvir a voz calma e doce de Deus me dizendo:

- Quando falava com um estranho, quanta cortesia você usou! Mas com seu filho, a criança que você ama, você nem sequer se preocupou com isso! Olhe no chão da cozinha, você verá algumas flores perto da porta. São flores que ele trouxe para você. Ele mesmo as pegou; a cor-de-rosa, a amarela e a azul. Ele ficou quietinho para não estragar a surpresa e você nem viu as lágrimas nos olhos dele.

Nesse momento, eu me senti muito pequena. E agora, o meu coração era quem derramava lágrimas. Então eu fui até a cama dele e ajoelhei ao seu lado.

- Acorde filhinho, acorde. Estas são as flores que você pegou para mim?

Ele sorriu,

- Eu as encontrei embaixo da árvore. Eu as peguei porque as achei tão bonitas como você!.

Eu sabia que você iria gostar, especialmente da azul.

Eu disse:

- Filho, eu sinto muito pela maneira como agi hoje. Eu não devia ter gritado com você daquela maneira.

- Ah mamãe, não tem problema, eu te amo mesmo assim!!

- Eu também te amo. E eu adorei as flores, especialmente a azul.

Você já parou pra pensar que, se morrermos amanhã, a empresa para qual trabalhamos poderá facilmente nos substituir em uma questão de dias. Mas as pessoas que nos amam, a família que deixamos para trás, os nossos filhos, sentirão essa perda para o resto de suas vidas. E nós raramente paramos para pensar nisso.

Às vezes colocamos nosso esforço em coisas muito menos importantes que nossa família, que as pessoas que nos amam, e não nos damos conta do que realmente estamos perdendo.

Perdemos o tempo de sermos carinhosos, de dizer um "Eu te amo", de dizer um "Obrigado", de dar um sorriso, ou de dizer o quanto cada pessoa é importante para nós.

Ao invés disso, muitas vezes agimos rudemente, e não percebemos o quanto isso machuca os nossos entes queridos. A família é o nosso maior bem!!!

É indiscutivelmente uma grande dádiva de Deus. Afinal é o principio de tudo, é a principal célula de tudo...

Afinal o mundo iniciou-se em família (Pai, Filho e Espírito Santo - João 1.1) e terminará em família (marido e esposa - Ap 21/22)

Os convidados do Diário Semanal de hoje: Padre Cícero Vigário Paroquial da Sagrada Família, Maria Sueli Lara da Costa Pastora da Assembleia de Deus Madureira, Professor Orlando Morais educador e atua na 4ª Unidade Regional de Ensino, Professor Marcelo Araújo Diretor da A+ Ensino, Dr. Luís Gonzaga Cavalcante advogado e Secretário da OAB/Pará Subseção de Marabá, Maria Neusa Silva Sá representante do Conselho Tutelar de Marabá, Thiago Fiuza Lima Seminarista da Diocese de Marabá e os visitantes: Izabel Malheiros Ministra da Eucaristia e Marcus Santos músico da Igreja Católica.

Mesa Redonda: A Família nos dias atuais

Adriana Araújo: Por serem obras de ficção as novelas pretendem retratar a realidade da família brasileira com pitadas de exageros. Muitas ideias e comportamentos diversos são apresentados como modo de aperfeiçoamento familiar. Algumas pessoas sentem-se como participantes da trama que busca chocar e conseguir mais e mais audiência. A televisão por meio de suas novelas consegue algum tipo de educação familiar? O povo consegue perceber as contradições do que é real e do que é irreal, percebem a inversão de valores?

Sueli Lara (Pastora): Realmente está havendo uma inversão de valores, nós sabemos que a família é uma instituição criada por Deus. O livro de Gênesis fala que Deus criou o homem segundo a sua imagem e nós, sendo semelhantes não devíamos fazer coisas contrárias do que Deus poderia representar. Será que, fazendo uma avaliação, estamos representando bem ou mal à vontade Dele?

Ele disse se unam, sejam uma só carne e sejam fecundo e multiplique a espécie. E o Senhor Jesus deixou um legado, do amor e da família e, temos que deixar também esse legado aos nossos filhos.

Tenho visto a mídia e os meios de comunicação em geral transformando a família com valores diferentes. Eu assisti nesta semana a uma novela, nada contra, cada um tem as suas escolhas, mas, e o resultado destas escolhas? Colher o que gente plantou e nós vamos ver o resultado de nossas escolhas. A televisão tem mostrado uma inversão, nessa novela nós vimos: alguém que deixou a família deixou o filho, deixou tudo pra viver uma vida diferente. Outro tinha vários companheiros e cada um tinha um filho de um pai diferente. Não vou julgar se é correto, mas, como Igreja, como instituição não podemos ficar calados e aceitar isso como uma verdade. Nós temos que defender a família pelo que conhecemos da Palavra de Deus. E eu acredito nesta Palavra.

Padre Cícero (Vigário): Acredito que a Pastora Sueli foi muito feliz nas suas colocações. Na dimensão bíblica há uma origem, um projeto de Deus. A família é um patrimônio de valor indiscutível.

Eu acredito que muitos dos nossos problemas resultam da ausência dos pais, vamos delegando à escola os nossos filhos, a uma empregada. Essa ausência trás consigo consequências no relacionamento em relação aos filhos e ao cônjuge, filhos distantes e até o divórcio, onde o mais prejudicado é o filho, a criança ou o adolescente.

Com relação às novelas, será que elas conseguem algum tipo de educação familiar? O povo consegue perceber as contradições do real e do irreal? Percebem as inversões de valores? Quanto a isso não tenho dúvida que a Globo consegue produzir grandes novelas e elenco da melhor qualidade, inclusive, estas novelas são exportadas para o mundo todo. Mas, são novelas apelativas e reduzem certas questões como se fosse uma verdade absoluta, mostra os seus modelos de família. Nesta última novela, “Em família” mostrou vários tipos de famílias, modelos falidos. É o caso de uma mulher que deixou o marido para viver com outra mulher. Outra mulher deixou o relacionamento familiar para se unir a outro homem, casos de infidelidades, do divórcio como se fosse uma coisa banal. Eu acho que a gente tem que se perguntar sobre a censura disso, pois, uma criança de 12, 13 anos ainda não tem estrutura psicológica para lidar com essas situações achando que é o modelo padrão.

Os pais tem a responsabilidade de ver os conteúdos não estão preocupados. Então, não ter presença, não ter consciência crítica, os cônjuges não conversam sobre novelas, filmes, programas policiais agressivos e não há um controle, nem mesmo dos pais.

A comunicação tem que ser revista, precisamos rever os conteúdos. Isto tudo tem influência na nossa sociedade. Nós temos a capacidade de avaliar criticamente e dizer: aqui não, está demais e não aceitar esse conteúdo. Certo?

Adriana Araújo: Numa visão antropológica a família é a célula fundamental da sociedade, ela agrega novos membros, forma sua personalidade, transmite valores essenciais de convivência civil e social, como a dignidade, a confiança mútua, a liberdade, o diálogo, a solidariedade, a obediência e respeito à autoridade. O papel social da família parece que está em crise e vem passando por transformações significativas. Que trabalhos nós podemos apresentar como exemplo capaz de fortalecer os valores humanos em prol da família?

Professor Orlando Morais (Educador): As perguntas foram bem elaboradas e bem interessantes. Quero pontuar duas coisas, tivemos duas respostas do ponto de vista religioso. É interessante destacar que essas transformações ocorrem segundo dois aparatos. A novela reafirma as transformações que vem ocorrendo na sociedade. É um retrato dessa sociedade. Essa reafirmação está contida em dois aspectos: no jurídico e da moral. Hoje você vê que a questão religiosa sofre muito e é o contra valor, vamos dizer assim, no combate a essas situações que a gente ver. Essa discussão no aspecto jurídico tá lá no inciso 8º do artigo 226 da Constituição Federal, àquela constituição da família, hoje você já vê a discussão e se vê determinado jurista falar do sujeito, do individualismo como elemento muito forte e a novela é o retrato fiel dessas transformações a partir da Constituição de 1988, onde se equipara a uma coisa muito bacana, nós aprendemos a interpretar muito mal a lei quando adquirimos o direito à democracia e a liberdade, confunde muito essas coisas e faz uso, muitas vezes, da forma errada. A constituição garante ao homem e a mulher direitos equilibrados, somos todos iguais perante a lei.

Ontem, quando a Adriana me convidou, me lembrei das revoluções que tem acontecido nos últimos tempos e eu coloco nessa mesa, uma das revoluções mais importantes dos últimos tempos é em relação à mulher, a maior. Historicamente, de 50 a 60 anos pra cá, o que tem acontecido: a emancipação e de conquistas importantes e, não digo isso pra culpa-la.

Com relação ao questionamento, sobre que trabalhos nós podemos apresentar como capaz de fortalecer os valores humanos em prol da família, aqui entra, volta de novo a questão da educação de aprender a ver novela, ver um filme com o olhar crítico, sem se deixar embriagar com essas coisas e traduzir isso na forma de viver é coisa de gente inteligente. Essas coisas acontecem, mas, não pode transformar a vida tal e qual. Eu vejo pessoas que leem um livro e passam a viver o que o livro diz, naturalmente, segundo o que o autor tá falando. Hoje existe uma tendência de ler os livros de autoajuda e, estes adoecem, muitas das vezes, muitas pessoas por conta dos conceitos que ali estão. A gente precisa de discernimento que uma novela é uma ficção e que a gente não pode trazer isso pra nossa realidade. A vida real é muito diferente daquilo que está sendo retratado ali e, muitas das vezes até não. Elas não cabem dentro da minha família, às vezes, aquilo que está sendo tratado numa ficção, como retratado nas novelas brasileiras.

Dr. Luiz Cavalcante (Advogado): Tudo que foi falado aqui foi muito bem apresentado. Vou dar o enfoque jurídico, mas, não apenas jurídico. É interessante olhar essa questão da família no contexto jurídico. A Constituição Federal de 1988 prevê de forma explícita, com muita clareza que a família é a base da sociedade e, por ser a base da sociedade tem especial atenção do Estado. Não apenas a proteção, mas, especial proteção do Estado. Estes problemas, por vários fatores, várias causas, mas, realmente, temos um Estado doente, as pessoas que estão à frente do poder executivo, legislativo e judiciário, obviamente existem exceções, existem lacunas nas pessoas. O contexto em que vivemos é marcado por valores neoliberais, outrora eram valores liberais, eram valores religiosos. Hoje vivemos em uma sociedade filosoficamente falando, neoliberal, onde o relativismo é uma das coisas que predomina. Tudo é relativo. Os valores absolutos, posso tranquilamente dizer, não serve pra mim. Eu entendo que a família é assim, o que importante é o que eu penso. O Estado está doente, a sociedade se encontra doente, mesmo que existam paliativo, não resolvem o problema que é estrutural.

Os problemas tem uma ordem relacional. Se você tem um problema, ele está dentro de uma relação, com você, com outra pessoa, com a sociedade, com a natureza ou com Deus. Os problemas decorrem de uma ordem relacional. Agora, respondendo a pergunta, que atitudes devemos ter? É importante voltar a ter atitudes como essa, desse programa, de debater em todas as esferas da sociedade para debater, refletir e analisar, principalmente entender logo que estamos doentes e precisamos de cura. E aonde vamos buscar essa cura? É nas novelas? É nos livros de autoajuda? O problema está nas relações que estabelecemos com os outros, com Deus. A dimensão espiritual está acima da dimensão religiosa e precisa ser vivenciada pelas pessoas de forma consciente.

Existe o sistema como um todo que deseja manter as pessoas manipuladas. É muito melhor pro Estado ter as pessoas manipuladas do que mantê-las conscientes e esta manipulação vai trazer conforto e segurança pra quem detém o poder.

Hoje a família realmente está em crise. As instituições precisam entender isso. Quando falo de instituições, são as instituições públicas, do judiciário, às vinculadas ao Estado, as religiosas que tem um papel preponderante na vida das pessoas, a escola também. E pra que o Estado proteja as famílias, faz-se necessário ir, não de uma dimensão macro para a dimensão micro, mas, do contrário, com iniciativas que possam criar uma teia de relacionamentos a fim de que chegue a uma solução mais consistente. Eu preciso vivenciar na minha casa os valores familiares, porque, estamos encontrando em nossas casas, encontrando os nossos filhos crescendo como egoístas e insensíveis, muitas vezes, não respeitando as pessoas do seu lado, dentro de uma lei das selvas. Precisamos passar por uma revolução de convicções, de consciência para transformar esse contexto.

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Adriana Araújo: O Papa Francisco disse: "A verdadeira alegria que se vive na família não é algo de superficial, não provém das coisas, das circunstâncias mais ou menos favoráveis. A verdadeira alegria provém da harmonia profunda que reina entre as pessoas, aquela alegria que todos sentem no fundo do seu coração e que os faz viver a beleza de estar junto, ajudarem-se mutuamente no caminho da vida. Mas na base deste sentimento de alegria profunda está a presença de Deus na família, o seu amor misericordioso, respeitoso de todos. Só Deus sabe criar a harmonia das diferenças". Na preservação da fé e dos valores ainda podemos considerar a Família como igrejas domésticas? Qual a tendência atual sobre a família brasileira diante de muitos temas novos como a relação homoafetiva e etc?

Padre Cícero (Vigário): O sonho da igreja é que as famílias sejam realmente aquele núcleo menor e, seja o santuário doméstico. Trabalhamos muito para que as famílias vivam nesta perspectiva de um amor maior entre si, da vivência da espiritualidade. Muitas famílias ainda rezam antes das refeições, agradecem à noite e fazem questão de rezar o terço e não são famílias antigas não, são jovens mesmo que estão constituindo famílias, que nem a sagrada escritura. Também temos movimentos dentro da igreja como o Encontro de Casais com Cristo (ECC), como as equipes de Nossa Senhora que tem o dever de todas as noites sentar-se e conversar sobre a família e estudar o evangelho do dia e de se reconciliarem. Essa experiência da igreja doméstica é possível e existe, temos deficiência, mas ela existe. Algumas pessoas, inclusive, quando vão construir suas casas já definem um local para o santuário doméstico.

A pergunta tem algo espinhoso pra gente que representa instituições religiosas, de como a gente vê nas relações homo afetivas. Antes de vermos a questão legal ou religiosa a gente precisa ver o ser humano. A gente vai lidar com a pessoa que é um ser humano que tem que ser acolhido e amado. Sendo acolhido e amado a gente pode fazer um trabalho de aproximação e de ajuda mútua, do contrário, vamos praticar o preconceito e a discriminação. Tem um jesuíta religioso que é teólogo, no Brasil, que estuda muito sobre isso. Eu acredito que é uma referência, o Padre Luís Correa Lima e que é professor na PUC e trabalha na dimensão da inclusão de uma teologia capaz de compreender o fenômeno da homo afetividade, pra tirar os preconceitos para causar a exclusão. Por parte da igreja está a dimensão religiosa que é a de Jesus: Vinde a mim todos os que estão cansados que eu vos darei descanso. E o Senhor Jesus no evangelho não hesitou em acolher os excluídos, foi o leproso que estava socialmente excluído, inclusive, da experiência religiosa, foi a Samaritana que era pecadora, foi Zaqueu e inclusive pessoas com deficiências visuais. O Senhor incluiu, se aproximou. A primeira dimensão que faz parte da sensibilidade religiosa é ir ao encontro, abraçar e perguntar, como você está? O que você precisa? Depois vem a dimensão prática, das noções de auxílio às pessoas. Esse abraço, essa fraternidade deve ser para com todos. A igreja como extensão da misericórdia de Deus não pode excluir ninguém.

Maria Neusa Silva Sá (Conselho Tutelar): O Conselho Tutelar tem recebido várias situações nesse sentido e a gente tem que cumprir o que determina a lei. Mas, as famílias ainda não sabem lidar com isso, principalmente quando elas percebem que o filho de 6, 7, 8 anos já tem trejeitos e começa a rejeição e os colocam pra fora de casa e estes passam a ter uma subvida, inclusive, da prostituição homossexual, isto está acontecendo muito em Marabá, tá só crescendo e a gente tem essa dificuldade, não de combater, mas de tratar desse assunto que a família não compreende e não aceita isso, principalmente o pai não aceita e a missão fica com a mãe. Temos situações que o casal se separa porque o pai não quer e não gosta dele desse jeito.

Thiago Fiuza Lima (Seminarista): Bom dia Adriana e bom dia aos ouvintes. Diante dessa realidade nós podemos observar que o Papa Francisco é fantástico e sou fã dele. Dentro do contexto da pergunta o Papa João Paulo II dizia muito, falava muito bem sobre essa questão e vemos isso em muitos documentos quando dizia: A Família, Santuário da vida. De fato, a família deve ser essa igreja doméstica, dentro dessa realidade é ela que vai nortear os valores, tanto da formação humana como da formação espiritual dos filhos e da vida familiar. É importante a família viver como igreja, base humana no sacramento do matrimônio na igreja e na vida social, é a partir daí que depende muito a felicidade do casal, do homem e do mundo diante dessa perspectiva.

Ainda não há, infelizmente, não só no meio católico, mas entre as igrejas evangélicas também, existe essa dificuldade e, dentro das próprias famílias. A pergunta colocada é realmente espinhosa. Partindo do pensamento da igreja da qual eu faço parte, o Papa Francisco colocou muito bem quando veio ao Brasil uma frase que foi muito bem acolhida pela imprensa e pelo mundo, “quem sou eu para julgar?” Eu penso da mesma maneira, quem somos nós para julgar as pessoas que vivem essa relação homo afetivas?

O Padre Cícero foi muito feliz na sua explanação quando disse que nós precisamos primeiramente compreender que trabalhamos com pessoas. E no âmbito da educação, eu fui professor de filosofia aqui em Marabá e, posso dizer que nós precisamos formar os nossos jovens, a nossa família, partindo do amor e para o amor, essa deve ser a formação que deve nortear a nossa vida. A Pastora Sueli disse muito bem sobre o Gênesis capítulo 1 versículo 26, que vai falar do homem e da mulher. A Igreja com a voz do Papa Francisco quer dizer, que não se quer de maneira nenhuma julgar e condenar, mas, para acolher e ajudar naquilo que as pessoas precisam.

Em relação a primeira pergunta sobre novela, eu observo uma espécie de ditadura do pensamento. A gente não deve ter a ditadura heterossexual, mas, também não devemos ter uma ditadura homo afetiva ou mesmo, não devemos ter uma ditadura em relação às várias formas de pensar. Nós, enquanto igreja seja no sentido espiritual, laico ou estatal, eu creio que a gente deve viver essa dimensão.

Adriana Araújo: Segundo pesquisa do IBGE realizada em 2012, está aumentando o número de casamentos no Brasil, enquanto a quantidade de divórcios vem caindo. No sacramento do matrimônio, quem se casa diz: «Prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida». No entanto, se os brasileiros estão se casando mais, eles também estão desmanchando mais facilmente as uniões. Quais os fatores mais influentes nos casos de separação? A própria lei do divórcio interfere no aumento destas desuniões?

Maria Sueli Lara da Costa (Pastora): A família é uma instituição de Deus. Para que haja a família tem que haver o casamento. Agora imagine duas pessoas que vão se unir, e a mulher e o homem tiveram uma formação, uma criação diferentes. No meio desse relacionamento vai haver problemas. Como há a submissão, o homem como cabeça e tem a submissão cega, àquela coisa que você não pode falar. Mas, a submissão é uma condição de respeito. E significar respeitar a individualidade de cada um, duas pessoas diferentes unidas pelo amor e é através do amor que a gente consegue perdoar.

Muitas pessoas se casam e no casamento acontecem as divergências, e pensam assim, se não der certo, se não fizer do meu jeito eu separo. Tem também os que se casam e ficam por um tempo e se não der certo eu vou partir pra outra. Eu aprendi com os meus pais o que é fidelidade, o que é respeito e conseguimos criar os nossos filhos dessa forma.

Dr. Luiz Cavalcante (Advogado): Eu vou respondes as perguntas sobre quais os fatores mais influentes nos casos de separação? A própria lei do divórcio interfere no aumento destas desuniões? Durante muito tempo a cultura brasileira foi marcada pela orientação religiosa nos comportamentos, nas escolhas. Mas, foi um contexto, não só no Brasil, mais no mundo todo foi que o Estado passou a ser laico e a influencia da religião na vida das pessoas foram diminuindo e as pessoas passaram a fazer suas escolhas livres dessa instituição. O casamento era visto como uma aliança entre homem e mulher na presença de um Ser superior, no caso Deus e casavam-se. E esses eram os valores que se tinha de um casamento. Com o passar do tempo o Estado tornou-se laico e ordenamento jurídico favorece isso, o casamento deixou de ser uma aliança e passou a ser um contrato. Nas instituições religiosas os jovens não desejam mais se casar na presença de um padre ou de um pastor, mas, tão somente na presença de um juiz, vislumbram a relação como um contrato e a concepção religiosa é a que amarra mais. E pensam que na hora que não der certo eu me separo. O ordenamento jurídico favorece a essa atitude. Hoje, se você não tiver filhos menores ou incapazes você pode se divorciar diretamente no cartório, sem a anuência, sem a homologação, sem a sentença de um juiz de direito, vão ao cartório com a presença de um advogado e fazem a resilição do contrato do casamento.

As pessoas por não sentirem o casamento como uma aliança testemunhada por Deus, não há mais aquele imperativo, o que Deus uniu o homem não separa, ou seja, tirou-se a marca religiosa e as pessoas tem mais autonomia nas relações. A cultura jurídica é mais difundida nos dias atuais. O casamento amarra muito mais na questão patrimonial, o trabalho é menor do que numa união estável para se justificar o patrimônio que se constituiu. As relações ocorrem no ato que se contrai o contrato, se é de comunhão parcial, se é universal, se é divisão total de bens. A cultura jurídica está mais difundida e por isso, não só aumentou o número de casamentos como também o de divórcios.

Adriana Araújo: A letra da música “Pais e Filhos” (1989) da banda Legião Urbana remete a um suicídio, sobre uma menina que se jogou da janela do quinto andar e ninguém sabe o porquê que ela se matou. A música retrata conflitos familiares e pessoais (quer colo, mas quer fugir de casa e quer o ninho, mais quer também a liberdade), fala de medo e de amor como no verso: “Você me diz que seus pais não te entendem, mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer.” Agora vamos ouvir de vocês: como estão as relações pais e filhos, nos dias atuais?

Professor Marcelo Almeida (Educador): Eu gosto muito da letra dessa música e uso bastante. O Padre Zezinho tem o Hino da Família e tem uma letra excepcional que nós usávamos, eu e o Orlando, nas reuniões de pais, o 6 a 4 para os pais.

Eu vinha vindo e ouvindo o programa. Eu gostei de ouvir se falar de espiritualidade diferenciando de rito religioso. Ouvi o Padre Cícero e o Tiago, a Pastora Sueli e o ponto de vista jurídico do Luiz e, como pesquisador vou puxar a sardinha pra mim. A pergunta é muito pertinente porque fala de crises e conflitos que podem parecer falta de criação, influência social. Na primeira pergunta sobre a novela, a influência da tv que é um complicador sério. Ontem na praia com a família vendo a novela vi o beijo gay, antes não tinha palavrão nas novelas e contei no mínimo 6 palavrões antes do beijo gay. E se liberaram o beijo gay daqui a pouco vão liberar a relação gay nas novelas e os palavrões já vieram, como virão outros adereços neste contexto.

Puxando agora para o lado científico, nessa fase da adolescência existem umas questões de ordem desenvolvimentista do ser humano que precisam ser considerados. Existem alguns autores do desenvolvimento humano que tratam da adolescência como fenômeno social alinhado com o fenômeno biológico que se denomina de puberdade, onde ocorrem diversas transformações que vão da ordem física, a psíquica e social. Na ordem física aparecem os caracteres sexuais secundários, por exemplo, das mamas nas meninas e pelos nos meninos tem muita importância. Como é um fenômeno que não se entende parafraseando Henry Wallon, é um corpo que é meu mais eu não o reconheço. Essa inquietação momentânea física e orgânica vai para o psíquico e se estende ao social e são essas coisas que a gente não consegue compreender porque a voz se altera e etc. E a escola não nos ensina a ser família. A nossa educação nos prepara pra vida, mas é uma vida que a gente não vai viver. Prepara tanto para o futuro e se esquece do presente.

A música proposta pelo programa é linda, inclusive diz que os pais são crianças como você, porque ele também não entendeu esse processo que ele vivenciou. O pai, a mãe, a família a primeira pergunta que se faz é aonde foi que eu errei. O fulano é tão bom e esse nasceu tão diferente. O conflito distancia ainda mais uma relação que deveria ser muito próxima. Essa música retrata muito bem porque ela puxa para uma reflexão, não só da fase atual que a gente vive de sociedade mais também, do comportamento dos pais nessa relação.

A letra da música 6 a 4 do Padre Zezinho tem algo que eu gosto muito que é a questão do equilíbrio, tem um trecho que diz que o lar onde a relação é 5 a 5 é um lar completamente falido, sem Deus, onde a droga domina, significa que a família perdeu e não há respeito, os filhos sem acham no mesmo nível dos pais. Quando diz 6 a 4 quer dizer que não pode prevalecer o modelo dos pais, mas, a família tem o poder, o controle e autoridade para educar. Enfim, a letra dessa música 6 a 4 deveria ser mais trabalhada nas escolas.

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Adriana Araújo: Agora temos a Lei da Palmada ou Lei Menino Bernardo que dá poderes de intervenção às autoridades em relação a atitudes de pais como o uso de uma palmada como medida disciplinar. Esta Lei reflete uma verdadeira necessidade de intervenção familiar no caso de uma palmada? Os pais como verdadeiros provedores precisarão ter muito cuidado e conhecimento legal para não serem denunciados e, é este o bom remédio para as famílias? É esta a solução para o fim da violência familiar ou temos outras escolhas?

Professor Orlando Morais (Educador): Essa pergunta é espinhosa, perigosa pra se responder. Volto um pouco para falar dos modelos de família, aproveitando um pouco a fala do Marcelo. Tivemos um estudo no mês de julho deste ano sobre a juventude, para tentar compreender quem é esse sujeito na atualidade. Uma coisa ficou clara, os jovens não vêm o mundo como nós. A compreensão que eles têm de tudo o que está acontecendo é completamente diferente do que nós adultos temos, portanto, a relação deles com esse mundo se dão nesse formato que o Marcelo falou, que nós adultos temos muitas dificuldades de lidar com eles porque não sabemos como conversar com eles, porque a linguagem que muitas das vezes utilizamos é incompreendida, então, temos muitas dificuldades enquanto pais, escolas e sociedade. Nós discutimos muito no contexto de família nuclear, falamos da questão homo afetiva que é um dos modelos. Eu li alguns autores, especialistas, entre eles o Pedro Lobo, um grande pesquisador do Brasil na questão da família. Ele diz que hoje o elemento que caracteriza a família é o afeto. No momento que vivemos hoje a família é chamada de pós-nuclear, que é formada através de diversas formas. Agora foi falado que a justiça vai abrindo esses leques, hoje não precisa mais haver o casamento, basta se unir por 2, 3, 4 anos e quando se separa existe os direitos. A organização familiar, o autor afirma que há centenas de organização de pessoas que hoje tratamos como família e não é só essa família nuclear formada pelo pai, mãe e filhos. Interessante seria se estivéssemos discutindo apenas um modelo. Segundo os estudiosos, o afeto é o elo, o principal fator da constituição dessas novas famílias.

Com relação ao último questionamento, enquanto educador, com todo o amor que tenho com as crianças, com os pais, a gente vive um momento de muitos conflitos. Não é por que acabou de ser aprovada uma nova no Congresso Nacional que não se pode dar uma palmada.

Eu vi no facebook uns pais dizendo que quando tiver um problema vai entregar os filhos no Congresso para cuidarem deles, já que nem uma palmada ele pode dar e, para não transgredir a lei eu vou entregar a criança para o deputado cuidar. Muitos pais não concordam com essa lei. E aí, é o momento de falar novamente do equilíbrio. Até onde essa palmada é apenas uma palmada ou é uma agressão? O Conselho Tutelar é que pode falar mais sobre isso, na escola a gente aprende que agressão não é só a palmada e existem milhões de outras formas de agressão, dentre elas a da negação de direitos, uma das piores que existe, de negar às crianças uma escola que preste, um posto de saúde que preste, de ter uma casa para morar que preste. Os direitos básicos não estão sendo garantidos às crianças por quem deveria dar as garantidas. Muitas crianças vão para a escola por conta da alimentação que é fornecida e entra a Bolsa Família, uma série de elementos que atualmente serve para sustentar a família e não mais para comprar o material de estudo da criança. A negação dos direitos é a maior agressão que as crianças brasileiras vivem e já passou da hora do Brasil criar vergonha na cara, dinheiro não falta para garantir melhores condições às crianças, dar uma vida com mais dignidade.

Maria Neusa Silva Sá (Conselho Tutelar): Vou iniciar lendo o Estatuto da Criança e do Adolescente o Art. 5º:

Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

A Lei que estão batizando de Lei da Palmada, altera o Estatuto da Criança e do Adolescente que é a Lei 13.010 de 26/06/2014, que vem para dizer, esclarecer o que é esse texto aqui, parece meio escondido o significado das palavras. Diz bem claro que criança e adolescente não pode ser corrigidos por meio de castigo físico. O texto diz assim:

A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso do castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante.

A Lei faz outro esclarecimento, o Estatuto da Criança e do Adolescente diz também que é dever da família, mas, que é também da comunidade, do Estado e da sociedade e coloca a proteção da família em primeiro lugar. Mas, a gente esbarra numa situação muito séria. As famílias que costumam ir ao Conselho Tutelar, essa falta de estrutura não está só relacionada a questão financeira, social, pessoal, os riscos e a vulnerabilidade que a gente verifica nessas famílias são também de conhecimento, de cultura, de aprendizado e de educação. Temos famílias que nem o pai ou a mãe estudaram e, conseguiram e, trazem esse exemplo pra gente. Mas, tem outras famílias de médicos, advogados, professores e, enfim, uma série de classes de pessoas que procuram o Conselho Tutelar porque perderam o controle com os seus filhos e chegaram ao espancamento e, vão ter que passar pelo olhar da justiça e a lei abre esse entendimento pra gente. Ela diz aqui no parágrafo único, o que considera como castigo físico:

Ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso de força física sobre a criança ou o adolescente, que resulte em sofrimento físico ou lesão, tratamento cruel ou degradante, conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança e ao adolescente, que humilhe ou ameace a vida deles.

Alguns meses atrás fizemos o atendimento de uma adolescente de 16 anos que a mãe bateu bastante e a colocou de joelhos num tablado de uma das lanchonetes que fica em frente ao Banco do Brasil. As pessoas pediam para ela tirar a menina dali. Ela dizia que não, a filha era dela e que ia fazer do jeito que achava que tinha de ser feito. A moça chegou naquela fase difícil e queria namorar e a mãe que também tinha tido uma vida complicada, engravidou e não foi assumida, teve outras duas filhas cujos companheiros não assumiram. Então, ela não queria que a história se repetisse. E ela batia e xingava a menina com o povo todo vendo. Foi preciso chamar a Guarda Municipal e o Conselho Tutelar para socorrer a menina de uma situação vexatória, degradante e humilhante, além das agressões físicas.

Eu observo que com esta Lei da Palmada é que o Estado está impondo, entra na sua casa enquanto Estado e diz o que você tem que fazer com o seu filho, mas, não lhe dá nenhuma condição para isso. Não dá uma boa escola, uma boa assistência social e o que realmente a família precisa.

Mas, eu acho importante esta lei, por que é difícil entender muitos casos de violência, do pai que corrigi um filho de 3 meses com espancamento e a criança fica 30 dias em uma UTI e com sequelas para o resto da vida. Enfim, também teve o caso do Menino Bernardo e os agressores não podem ficar impunes.

Adriana Araújo: Estamos finalizando e agradecendo a todos que participaram e contribuíram para mais um grande debate que vai ajudar muito na relação pais e filhos.


 
 
 

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Eduarda Araújo
Blogueira
Eduarda Araújo

Pós graduada em Gestão de Pessoas, atualmente Analista de Recursos de Infração e Blogueira. Executa trabalhos sociais de dança e teatro em instituições religiosas 

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