Climatério e Menopausa, tudo ou quase tudo que você precisa saber.
- Adriana Araujo
- 28 de fev. de 2015
- 21 min de leitura

Adriana Araújo: Mais um Programa Diário Semanal e no dia de hoje vamos tratar de um tema que perturba muito a mulher. A mulher passa por várias fases e uma fase chama muito a atenção, a partir dos 40 anos ocorre a última menstruação e isto impacta na saúde dela e traz alterações de humor, de mudanças no corpo. É algo que pode deixar as mulheres assustadas com a chegada da menopausa. Vamos apresentar este tema com um especialista muito conceituado na Cidade de Marabá.
Essa matéria foi muito requisitada, eu recebi muitos e-mails com perguntas que eu vou colocar no programa e eu acredito que vamos ajudar à você mulher que está passando por essa fase e ao parceiro, fiel parceiro para ajudar nestes momentos de apreensão e de perturbação psicológica. Antes de entrar no tema, eu trouxe uma mensagem de reflexão:
Uma prova de Amor
Há muito tempo atrás, um casal de velhinhos que não tinham filhos morava em uma casinha humilde de madeira, tinham uma vida muito tranquila, alegre, se amavam muito e eram felizes.
Até que um dia aconteceu um acidente com a senhora. Ela estava trabalhando em sua casa quando começa a pegar fogo na cozinha e as chamas atingem todo o seu corpo. O esposo acorda assustado com os gritos e vai a sua procura, quando vê-la coberta pelas chamas imediatamente tenta ajuda-la e o fogo também atinge seus braços e mesmo em chamas consegue apagar o fogo.
Quando chegaram os bombeiros já não havia mais fogo apenas fumaça e parte da casa toda destruída.
Levaram rapidamente o casal para o hospital mais próximo, onde foram internados em estado grave.
Após algum tempo aquele senhor menos atingido pelo fogo saiu da UTI e foi ao encontro de sua amada. Ainda em seu leito a senhora toda queimada, pensava em não viver mais, pois estava toda deformada, as chamas queimaram todo o seu rosto. Chegando no quarto de sua senhora, logo ela foi falando:
- Tudo bem com você meu amor? Sim respondeu ele, pena que o fogo atingiu os meus olhos e eu não posso mais enxergar, mas fique tranquila que a sua beleza está gravada em meu coração para sempre.
Então triste pelo esposo, disse-lhe: - Deus vendo tudo o que aconteceu meu marido, tirou-lhe as vista para que não presenciasse esta deformidade em que eu fiquei.
As chamas queimaram todo o meu rosto e estou parecendo um monstro. Passando algum tempo recuperados, voltaram para casa onde ela fazia tudo para seu querido esposo e ele todos os dias dizia-lhes, como eu te amo!
E assim viveram 20 anos até que a No dia de seu enterro quando todos se despediam então veio aquele senhor sem seus óculos escuros e com sua bengala nas mãos, chegou perto do caixão, beijando-o rosto e acariciando sua amada disse em um tom apaixonante:
- "Como você é linda meu amor eu te amo muito". Ouvindo e vendo aquela cena, um amigo que estava ao lado perguntou se o que tinha acontecido era um milagre, e olhando nos olhos dele o velhinho apenas falou: - "Nunca estive cego, apenas fingia, pois quando há vi toda queimada sabia que seria duro para ela continuar Foram vinte anos vivendo ambos muito felizes e apaixonados!!!
Texto Introdutório: Saiba mais sobre o Climatério e a Menopausa
Adriana Araújo: Climatério e menopausa não são sinônimos. Climatério é uma fase de limites imprecisos na vida feminina; compreende a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. Menopausa, ao contrário, tem data para começar: a da última menstruação da vida.
Enquanto o homem espalha centenas de milhões de espermatozoides a cada ejaculação, a mulher investe toda a energia na produção de um único óvulo por mês. Todos os óvulos que produzirá terão sua origem em células germinativas (ou folículos) dos ovários já presentes no instante do nascimento. As meninas nascem com um a dois milhões dessas células germinativas.
Em cada ciclo menstrual um comando hormonal complexo recruta um grupo de folículos para produzir o óvulo daquele mês. Os que perderem a oportunidade enfrentarão a impiedosa seleção natural, e morrerão. Por causa dessa competição, quando chegar a primeira menstruação, o número de folículos estará reduzido a cerca de 400 mil.
Os folículos em luta para formar óvulos são os principais produtores dos hormônios sexuais que fazem a fama das mulheres. O folículo é a unidade funcional do ovário. Mulher nenhuma é capaz de formar novos folículos para repor os que se foram. Quando morrem os últimos deles, os ovários entram em falência e as concentrações de estrogênio e progesterona caem irreversivelmente.
De cada quatro mulheres, pelo menos três experimentam sintomas desagradáveis no climatério. As ondas de calor resultantes de sintomas vasomotores são os mais típicos; estão presentes em 60% a 75% das mulheres. Surgem inesperadamente como crises de calor sufocante no tórax, pescoço e face, muitas vezes acompanhadas de rubor no rosto, a temperatura da pele chega a subir cinco graus, a sudorese (que pode ser profusa), palpitações e ansiedade. As crises geralmente duram de um a cinco minutos e podem repetir-se diversas vezes por dia.
A queda dos níveis dos hormônios sexuais altera a consistência do revestimento da vagina, da uretra e das fibras do tecido conjuntivo que conferem sustentação à mucosa dessas regiões. Podem surgir incontinência urinária, ardência à micção, facilidade para adquirir infecções urinárias e corrimentos ginecológicos. Os músculos que formam o assoalho responsável pela sustentação dos órgãos genitais e bexiga urinária enfraquecem e podem surgir prolapsos (útero e bexiga caídos). Os pelos pubianos ficam mais ralos, os grandes lábios mais finos, a mucosa vaginal perde elasticidade e flexibilidade podendo sangrar e doer à penetração. Diminuição da resposta à estimulação clitoriana, secura vaginal e redução da libido são queixas frequentes. A fisiologia do orgasmo, no entanto, não é alterada.
A falta de estrogênio resseca e torna a pele mais fina, enrugada, menos elástica e as unhas frágeis. Os pelos pubianos e axilares se tornam mais ralos. O colágeno da derma mais profunda começa a ser perdido a uma velocidade média de 2% ao ano, durante os 10 primeiros anos de menopausa.
Ricas em receptores para estrogênio e progesterona, as células das glândulas mamárias se hipotrofiam com a falta desses hormônios. O espaço deixado entre elas é substituído por tecido gorduroso. As mamas se tornam mais flácidas, o mamilo fica mais achatado e perde parcialmente capacidade de ereção.
A partir da menopausa, 1% a 4% da massa óssea é reduzida a cada ano que passa. A perda é mais sentida nas vértebras e nas extremidades dos ossos longos. Mulheres de raça branca ou amarela, baixa estatura, peso corpóreo baixo e com história familiar de osteoporose são mais suscetíveis. Além desses, há fatores evitáveis que aumentam o risco de perda óssea: dietas pobres em cálcio, com excesso de vitamina D, ingestão exagerada de cafeína, de álcool, tabagismo, vida sedentária e o uso de certos medicamentos.
Através de mecanismos mal conhecidos, menor produção de estrogênio modifica os níveis de dopamina, noradrenalina e serotonina em certas áreas do sistema nervoso central. Como consequência, as mulheres no climatério estão sujeitas a quadros depressivos, dificuldade de memorização, irritabilidade, melancolia, crises de choro, humor flutuante e labilidade emocional.
Mulheres de 45 a 55 anos, que ainda menstruam, apresentam apenas um terço das doenças cardiovasculares dos homens nessa faixa etária. A chegada da menopausa aumenta gradualmente a incidência dessas enfermidades no sexo feminino, até igualar-se a dos homens ao redor dos 70 anos.
1. Adriana Araújo: No programa de hoje eu vou contar com o Dr. Francisco Alves e o nosso Colaborador muito Especial Manuel Wambergue. Bom dia ao amigo Dr. Francisco, vamos trabalhar muito. O que é a menopausa e o climatério? Qual a diferença entre ambos?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Bom dia Adriana e bom dia aos ouvintes. No meio leigo as pessoas costumam pensar que sejam a mesma coisa. Na verdade não é a mesma coisa. A menopausa diz respeito a última menstruação que a mulher tem e o climatério é um período. Quando a mulher nasce, já nasce com os óvulos que ficam adormecidos e, por volta dos 12, 13 e 14 anos acontece a primeira menstruação que é chamada de menarca e os óvulos, ao contrário dos homens que liberam milhares de espermatozoides a cada ejaculação a mulher tem uma quantidade limitada de óvulos, ou seja, os óvulos ao longo da vida da mulher vão se acabar e quando isto ocorre a menstruação também se encerra junto e essa última menstruação chama-se de menopausa. Já o climatério é um período em torno de 2 a 8 anos antes da menopausa e se estende até os 65 anos.
2. Adriana Araújo: Como saber que está chegando o período da menopausa e a do climatério, o corpo da mulher apresenta algum sinal?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): O ritmo de vida da mulher em termos endocrinológicos, de eventos internos é influenciado pelos ovários, ou seja, produzir ou não hormônios vai dar toda a tônica da vida das mulheres. No Ocidente, nessa parte em que ficam as Américas, a mulher entra na menopausa em torno de 45 e 55 anos. Pressupõe-se que ela, por volta dos 45 anos manifeste algumas alterações clínicas. Se reveste, sobretudo, de grande importância porque a mulher ganhou maior tempo de vida. Nos países desenvolvidos chega até aos 80 anos e no Brasil a mulher vive em média 72 anos. No Rio Grande do Sul a mulher brasileira vive em média 76 anos e isso significa que se ela para de menstruar em terno dos 45, 55 anos, ela vai ter pelo menos um terço de sua vida sem hormônios e, obviamente, todas as manifestações características dessa fase podem surgir, quem está nesse entorno tem que compreender essas mudanças. O Brasil tem em média 10 milhões de mulheres no climatério e os ginecologistas precisam repassar as informações necessárias para ela seja compreendida e que essas alterações não são frescuras. Isso ainda complica o dia-a-dia das mulheres.
Você me perguntou sobre os sinais. Quem dá o ritmo de vida são os ovários. Antes, preciso falar sobre a menstruação. Por volta dos 12, 13 anos vem a primeira menstruação e, por que que a mulher menstrua? Porque há uma glândula no cérebro chamada de hipófise e é responsável na produção de hormônios que entram na corrente sanguínea. Um desses hormônios chama-se FSH e o outro LH e na corrente sanguínea chegam aos ovários. Os ovários são estimulados, é como se eles levassem uma cutucada para trabalhar. São os ovários que produzem os hormônios chamados de estrogênios e progesterona que entram na circulação sanguínea e vão a outros lugares do organismo para fazerem seus efeitos. Eles atuam no organismo inteiro, mas, em termos de reprodução, nas mamas fazendo a preparação para o aleitamento. Atua na vagina, deixando-a mais macia e em condições melhores para as relações sexuais e atua, sobretudo, no útero.
O útero possui três camadas. A camada mais interna é o endométrio, lugar onde o óvulo que se juntou com o espermatozoide fecundado vai gerar uma criança, se instala lá, ele fica grudado. Se a mulher por algum motivo não engravidar, o endométrio que é a camada mais interna vai descamar provocando a menstruação. Isso ocorre em todos os meses, os dois ovários então, são estimulados a liberar mensalmente um óvulo e que, se encontrar com o espermatozoide vai provocar a gravidez.
Por volta dos 45 e 55 anos, em média aos 50 anos as mulheres entram na menopausa e esse ciclo reprodutivo que mencionei, perdem a sua funcionalidade, os ovários passam a não responder adequadamente aos estímulos do FSH e do LH e, não produzindo os hormônios estrogênios e progesterona a mulher manifesta os sintomas desse hipoestrogenismo, da redução dos estrogênios.
As alterações em relação ao padrão menstrual podem ocorrer de: menstruar demais, aumentar o fluxo de sangue ou de ficar vários dias menstruada ou, pode ocorrer o contrário, ela menstrua a cada três meses, ou seja, o ciclo começa a ficar bagunçado e isso é um sinal que a menopausa está chegando. Isso não quer dizer que a mulher que tem 30 anos, que tem uma irregularidade menstrual está na menopausa, não é isso. Até existe a menopausa precoce, quando ocorre antes dos 40 anos. A irregularidade menstrual ocorre pela perimenopausa, é o período que antecede a última menstruação e existem outras inúmeras causas que provoca isso também. Se você tem 30 anos e tem irregularidade menstrual não de deve pensar em menopausa. Falamos do grupo de pessoas próximas aos 45 anos.
A irregularidade menstrual, seja o encurtamento dos ciclos, seja o aumento no sangramento, seria um sinal. O estrogênio se liga em vários lugares do organismo e é responsável, entre outras coisas, pela melhoria da textura da pele. Na menopausa a mulher tem a pele mais ressecada, o estrogênio é responsável pela lubrificação e maciez da vagina. Na menopausa as mamas ficam um pouco mais caídas em decorrência da substituição do tecido glandular por gordura e a ação do estrogênio fica diminuída, a pessoa pode ficar com a unha e os cabelos mais quebradiços e são sinais do hipoestrogenismo, que é a redução dos hormônios.
Na paciente que em a bexiga um pouco caída, que perde urina quando faz um esforço, quando tosse ou espirra e como o estrogênio é o responsável na ajuda da retenção da urina na bexiga, pode ocorrer também, que esses sintomas de perda de urina sem querer sejam liberados.
Não posso deixar de mencionar as alterações do humor. A gente não sabe de que maneira, mas, a redução do estrogênio tem haver com as alterações do humor na mulher. Existem outros hormônios como a dopamina, serotonina e a noradrenalina que tem importância nos estados de humor. Em algumas áreas do cérebro elas ficam reduzidas e, na menopausa, especificamente, a mulher fica mais irritada e tem maior tendência à depressão, dificuldades em se concentrar. E, por último, vou falar do sintoma mais frequente, das ondas de calor, consequência do sistema vasomotor. É um calor de inicio súbito, inicia-se no tórax da paciente e sobe rumo ao pescoço e face, mesmo que esteja no ar condicionado e demora de 1 a 4 minutos, a pessoa fica com a face do rosto muito vermelha e vem o calorzão associado ao suor e é mais frequente no período da noite.
3. Adriana Araújo: Tem muita coisa que sabemos ou fazemos errado. Tudo tem suas implicações. Daí, é importante saber quais as complicações que o Climatério pode trazer para a saúde da mulher?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): O Climatério é um período. Depois que a mulher parou de menstruar. Um ano depois, se ela não menstruar mais, nós dizemos que entrou na menopausa e vai sofrer os eventos hipoestrogênicos que é a redução dos hormônios. Parte deles eu já citei, como a alteração do humor, dos sintomas urogenitais que é o caso da bexiga um pouco caída e vai ter problemas como a secura vaginal, secura da pele e das ondas de calor.
Tem uma consequência de longo prazo, os estrogênios produzidos nos ovários ficam diminuídos e dá uma proteção ao que diz respeito aos eventos de infarto e derrame. As estatísticas comprovam que até antes da menopausa quem enfarta mais são os homens. Depois da menopausa as estatísticas se igualam, morrem tanto homens como mulheres, de enfarte e de derrame, mostrando assim, que antes da menopausa o estrogênio exerce uma proteção cardíaca. Outro desdobramento depois da menopausa é ela apresentar maior incidência de infarto e de derrame.
Depois dos 30 anos, homens e mulheres tem uma perda de massa óssea, é maior nas mulheres e implica na doença chamada de osteoporose que é o aumento da porosidade do osso, ele fica mais furadinho e com maior chance de quebrar.
O climatério é fisiológico e não é uma doença, é uma etapa da vida da mulher e apresenta alguns problemas com as manifestações clínicas provenientes da redução dos hormônios, os transtornos já mencionados. Neste período ocorre a falência ovariana, os ovários já não vão funcionar com o fim reprodutivo e a mulher não vai poder mais engravidar.
4. Manuel Wambergue (Colaborador Especial): Na mulher é a menopausa e no homem a Andropausa, quais as manifestações que ocorrem no homem com a chegada da andropausa?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Os homens passam pela andropausa e não é muito bem demarcado como é na mulher. Nos homens a andropausa vai ocorrer dos 50 aos 60 anos. Ocorre com diminuição do hormônio chamado de testosterona que é responsável pela força física, pelo tesão, pelo vigor nas relações sexuais e começa a decair depois dos 30 anos. Na andropausa a velocidade da diminuição é maior com a perda da força muscular, com a alteração da textura da pele e vai diminuir a libido, o desejo sexual é mediado pela testosterona. Diminui a concentração e aumenta a irritabilidade. Esses sintomas são também comuns da vida moderna. Todos nós temos um certo grau de stress, de ansiedade e de irritabilidade. Depois dos 50 anos não se pode atribuir os distúrbios do humor, do entristecimento, a ansiedade e o mau humor, por exemplo, simplesmente à andropausa, sabemos que está associado, mas, existem outras manifestações de doenças e o próprio estilo de vida que nos deixa mais angustiado, com baixa estima, aborrecimentos que não se justificam simplesmente pela andropausa.
5. Adriana Araújo: Quais as principais complicações que a menopausa pode trazer à saúde da mulher?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Em parte nós já falamos, na alteração do humor, maior irritabilidade, maiores dificuldades de memorização e de concentração, pode trazer insônia e diminuir o desejo sexual. Pode ter eventos de trombose e de enfarto, de derrame e evoluir uma condição de osteoporose. São sinais decorrentes da diminuição dos hormônios, como disse anteriormente, e podem aparecer com graus e intensidades diferentes. Do mesmo modo que cada mulher tem um padrão menstrual, tem casos que é preciso internar devidos às cólicas que ela sente. Outras mulheres usam de 3 a 4 pacotes de absorventes e tem casos que ficam por 2 dias e não sentem nada. A diferença é que a menstruação, apesar de ser um evento comum à todas as mulheres se manifesta individualmente e, da mesma forma o climatério, a menopausa, que é a última menstruação que se manifesta na mulher.
Apenas 10 por cento das mulheres param de menstruar sem sentir dores e, em 90 por cento há diversas manifestações. Um evento que causa muita angustia é o sangramento aumentado, nessa fase, algumas fazem essa transição com quadros hemorrágicos importantes e há caos em que é necessária a retirada do útero porque não se consegue controlar o sangramento irregular usando apenas remédios. A irregularidade menstrual frequente trás grandes transtornos para as mulheres, inclusive, na vida sexual ela não consegue se programar sexualmente e, inicialmente o tratamento é feito com remédios e depois sim, se pensa na cirurgia de retirada do útero.
6. Adriana Araújo: O que ocorre com a retirada do útero e quais as complicações que podem ocorrer depois?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): O procedimento cirúrgico chama-se histerectomia que objetiva a retirada do útero e é feito por inúmeras causas. As mais frequentes é a presença de miomas volumosos que crescem e começam a comprimir as estruturas dentro da barriga e outra causa importante e frequente é o caso da mulher que foi ligada, está na casa dos 40 anos e não vai ter mais filhos e começa a ter a irregularidade menstrual incessante.
O útero, biologicamente falando só tem uma função, de juntar o bebezinho para evoluir, crescer e nascer, fora isso, biologicamente falando ele não tem outra função. Agora, psicologicamente falando, as mulheres acreditam que o útero é tudo e que se retirá-lo ela não vai ter mais orgasmos, vai diminuir o desejo sexual, não será como era antes. Trata-se de um mito. Quando se retira o útero se preserva, exceto em algumas situações, preserva-se os ovários. Não é o útero que produz os hormônios, essa função é dos ovários. Quando se retira o útero e os ovários juntos, essa opção é feita na paciente após os 45 anos, no próprio ato cirúrgico você remove os ovários. Lembrando que o médico avalia isso intraoperatório olhando a textura dos ovários e se eles tiverem boa qualidade ele vai deixar. Uma vez retirado os ovários e não útero, a mulher entra na menopausa. Se você tem 30 anos e foi retirado os ovários, vai entrar na menopausa, tem que repor.
7. Adriana Araújo: Uma vez que chega a menopausa, quais são os cuidados que a mulher deve ter e os exames específicos que ela terá que fazer?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Se você está com idade entre os 45 e 55 anos já é candidata à menopausa, a última menstruação e conseguinte o climatério. É comum você ter um ambulatório especificamente de climatério. O Brasil tem 10 milhões de mulheres no climatério e 74 anos de sobrevida, vai viver um terço de sua vida na fase climatérica, então, as secretarias de saúde deveriam ter um lugar específico para lidar com a mulher nessa fase. São muitas as coisas associadas. Mas, em Marabá nós temos o CRISMU, o Centro de Referência da Saúde da Mulher para fazer isso, mais, lá não se tem o ambulatório de climatério e há apenas 03 médicos ginecologistas para atender uma cidade de mais de 250 mil pessoas e eles tem que fazer de tudo, mesmo que um desses médicos trabalhe apenas com o tratamento de câncer e, ficamos com apenas 02 ginecologistas e, por falta desses profissionais os pacientes tem recorrido aos médicos particulares.
O ginecologista vai trabalhar com a prevenção e na promoção da saúde e alguns exames para esse período de climatério são necessários. Um deles é o preventivo que é o rastreamento do câncer do colo do útero (o PCCU) que é feito uma vez ao ano. A queda dos hormônios, como eu já falei, está relacionada com maiores eventos de trombose, enfarto e derrame, então, tem que fazer exames laboratoriais como: o hemograma para averiguar a imunidade e a anemia; o exame de glicose para ver a diabetes; o colesterol para ver os triglicerídeos e, quando estes dois estão elevados aumenta os fatores de risco para derrame, enfarto. Não é para ficarem assustados com isso. O colesterol quando está em 250 você não deve achar que vai enfartar no dia seguinte. O colesterol e o triglicerídeos aumentados repercutem na obstrução das artérias e vasos do coração e do cérebro a longo a prazo, anos e anos. Se você pode controlar isso mais cedo, é melhor que o faça. A mamografia é outro exame extremamente importante, mesmo que a mulher não sinta nada, ela tem que fazer uma vez ao ano. Com relação ao exame transvaginal, ele não é um exame de prevenção, porém, se há o histórico familiar de miomas, de irregularidade da menstruação ou de reposição hormonal, vai precisar fazer a ultrassonografia transvaginal e, além disso, deve atenuar os fatores de risco como a obesidade e o sobrepeso e todo mundo sabe o que fazer para controlar isso.
8. Adriana Araújo: Se a mulher estiver na fase da menopausa ou climatério, onde ela terá que se dirigir e o que lhe espera em relação ao seu tratamento? E, se o hormônio ficar diminuído é possível fazer a reposição?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Se os hormônios diminuídos provocam muitas alterações então, se eu fizer a reposição eu vou resolver logo o meu problema? Mas, na natureza nada é gratuito e tudo tem um significado. Como a menopausa não é uma doença não significa dizer que todo mundo vai ter que repor os hormônios. São as pacientes sintomáticas, agora a pouco eu falei desses sintomas, são alteração no humor, ressecamento da área vaginal dentre outros sintomas, então essas pacientes são candidatas a reposição hormonal. Essa reposição, achava-se que não havia implicações negativas. Em 2002 nos Estados Unidos foi feito um trabalho com um grupo de pacientes acima de 62 anos e fizeram dois esquemas de reposição hormonal. Existem várias formas de se fazer a reposição, vários esquemas e vários hormônios e, nesse estudo foi usado dois tipos. No grupo com idade acima de 62 anos aumentou, embora pequena, a incidência de trombose, de enfarto e de câncer de mama. A comunidade internacional resolveu repensar a reposição. O grande lema é individualizar cada situação. Uma paciente com a qualidade de vida muito afetada e no período que antecede a menopausa (de 45 a 55 anos e que a perimenopausa demora de 2 a 8 anos, em média 4 anos), com idade por volta dos 41 anos, ela é candidata a reposição de hormônios.
Outra situação em que a reposição hormonal para ser realizada é necessária alguns exames. O estudo acima mencionado mostrou uma incidência de enfarto, derrame e de câncer de mama. Não é que o hormônio vai provocar isso. Nesse grupo acima de 62 anos que usou esses dois esquemas de hormônios provocou essas incidências e, por conta disso, a gente individualiza a paciente e precisa-se de exames atualizados, entre elas a mamografia, a ultrassonografia do endométrio e outros. Não dá para passar na farmácia e comprar hormônios e começar a tomar. As imagens acima podem ser ampliadas com um duplo clique do mouse. Vamos prosseguir na próxima postagem com a última parte desta matéria. Eu quero dizer que é um assunto importante e do interesse de todas às mulheres. Vamos continuar trazendo melhores esclarecimentos acerca de muitas perguntas que recebemos. Até lá.
9. Adriana Araújo: Vamos à última parte da matéria. Algumas mulheres enviaram a pergunta, se podiam tomar hormônios por conta própria e, se ao repor os hormônios todos os meus problemas serão resolvidos?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Se há uma coisa que não se pode fazer sozinha é a reposição hormonal e se alguém está tomando o hormônio de uma amiga que está fazendo o tratamento, você não pode pensar que vai dar certo com você porque o tratamento é individualizado e se uma mulher está com ressecamento vaginal e está tomando o estrogênio. Em outro caso, uma outra mulher pode estar com irregularidade menstrual e vai tomar comprimidos para regularizar. Outra mulher pode estar com distúrbio do sono, irritada e até com depressão o médico vai prescrever remédios para controlar esses problemas. São vários os padrões de reposição que nem sempre é feito com a reposição hormonal e vai depender dos sintomas.
10. Adriana Araújo: Há meninas que menstruam mais cedo, até com 9 anos de idade, isso significa que ela vai entrar mais cedo na menopausa e, as meninas que menstruam mais tarde, aos 16 anos?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Isso não é muito matemático. Menstruou mais cedo, se gasta o estoque de óvulos e entra na menopausa, mas, existe essa tendência, da mesma forma, não é garantido que a mulher que menstruou mais tarde, por volta dos 16 anos que ela vai ter mais tempo para entrar na menopausa, mas, há uma tendência para sim.
11. Adriana Araújo: As mulheres na menopausa ficam mais irritadas, mais sujeitas a depressão? É maior a irritação, é necessário algum tratamento?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Agora a pouco eu falei que a gente não conhece o mecanismo detalhado, mas, a gente sabe que há uma redução da dopamina, da serotonina e da noradrenalina que são os hormônios que tem atuação no sistema nervoso central de todos nós. Existem remédios que melhoram a quantidade de serotonina em nível do sistema nervoso central e essa é a única função do remédio e, por conseguinte, melhora o padrão do humor. Então a gente sabe que o estrogênio está implicado na redução desses hormônios e, tende a ter mais insônia, alteração no humor, a chorar com facilidade, a ficar mais triste, a ter depressão e outros eventos de natureza psicológica, comuns à própria condição humano e ao padrão de vida de cada um e, com a diminuição do estrogênio, com certeza isso vai se exacerbar. Existe medicação para uso por um curto período de tempo, mas, claro, que vai ter a prescrição médica.
Ainda em relação a reposição hormonal devo dizer que há algumas contraindicações. Não são todas as pacientes que vão poder fazê-la. Por exemplo, a paciente com lesão na mama com uma suspeita de câncer não vai poder fazer a reposição. A paciente tabagista que fuma acima de 10 cigarros por dia, não vai poder fazer porque o estrogênio será um fator de risco para a trombose e pode provocar um derrame ou um enfarto.
A paciente com doença no fígado não poderá tomar hormônios. Mas, a maior reclamação das mulheres é com relação ao sangramento vaginal cujas causas são desconhecidas e pode ser, inclusive, um câncer do endométrio, ela entrou na menopausa e estava a dois anos sem menstruar e, de repente começa a sangrar, ou seja, isso não pode ser normal e neste caso não poderá repor hormônios. Mas, se ela não estava mais menstruando e depois fez a reposição hormonal, algumas pacientes podem apresentar sangramento e não vai menstruar normalmente e isso não é câncer e não vamos ficar preocupados com isso. É importante, sempre, procurar o ginecologista que saberá muito bem avaliar cada caso.
12. Adriana Araújo: Se a menopausa pode trazer algumas complicações para a vida da mulher, já vimos sobre isso, como levar uma vida mais saudável quando chegar esse momento?
Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Já sabemos que é uma ocorrência natural e ninguém vai escapar. Na reposição hormonal a gente trabalha com o conceito de janela de oportunidade, é àquele período que antecede a menopausa, por volta dos 40 anos, quando a pessoa já é uma candidata e pode-se fazer o uso de anticoncepcional de uso contínuo ou não, é o médico que vai analisar o perfil da paciente e, com isso, pode-se retardar ou minimizar os efeitos do climatério.
Se aos 20 anos de idade você tem uma dieta rica em cálcio, com o consumo de leite e derivados, isso vai ajudar numa boa estrutura óssea, no caso da osteoporose isso é importante, assim como, combater o sedentarismo fazendo atividades físicas com regularidade e evitar os alimentos inimigos do coração como as frituras, as carnes gordas, os biscoitos recheados (que são gordurosos), sorvetes em excesso e entre outros. Fazendo isso, no futuro você terá uma diminuição dos efeitos, mas, não há como evitar, todas as mulheres passarão pela menopausa e pelo climatério.
13. Adriana Araújo: Quantas vezes por ano a mulher deve procurar o ginecologista? Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Como eu anteriormente, deveria haver em Marabá um ambulatório específico para o climatério. Em muitas cidades isso já existe e propicia o encontro de mulheres com o mesmo perfil e quando elas sentam trocam experiências, conversam e prestam apoio, mas, esse espaço ainda não foi criado por aqui. Em Marabá nós temos o CRISMU e nele há três ginecologistas. Um deles trabalha com oncologia e os outros dois lutam para dar conta de uma cidade de 250 mil habitantes, e bem sabemos é muito pouco. A saída é buscar o atendimento particular, procurar consultórios particulares e na cidade há excelentes profissionais. A frequência ao ginecologista, na fase da menopausa, não raro o paciente já tem uma pressão alta, uma diabetes, às vezes problemas de insônia. Elas normalmente vão ao médico uma vez por ano. O ideal é ir ao médico uma vez ao ano para verificar o nível de colesterol, de triglicerídeos, fazer o preventivo, a mamografia. Se houver alguma alteração vai ter que fazer mais que uma visita. No Brasil o SUS adotou uma lógica “fordista”, eles perceberam que para botar o profissional para trabalhar tinha que estabelecer um número mínimo de pacientes para atender por manhã e por tarde, são 16 pacientes no período de 4 horas e dar apenas 15 minutos para cada consulta. A paciente com muitas queixas e a climatérica, por exemplo, tem muitas queixas, dor no corpo inteiro, no joelho, nas pernas e enfim, só para contar a história das dores já terminou o tempo dos 15 minutos. A própria estrutura de organização do sistema pressupõe uma consulta muito rápida. Eu trabalhei na prefeitura e pedi para sair porque não acreditava nesse sistema, não queria ser um tocador de serviços. Não estava satisfeito e coloquei o meu consultório e atendo 06 pacientes pela manhã e acredito que faço um bom trabalho e, percebo a satisfação dos meus pacientes. Como no atendimento pelo SUS há uma fila enorme o nível de satisfação é bem menor, alguns atendimentos como os de mulheres climatéricas e com depressão e atende-las em 15 minutos é muito pouco. Manuel Wambergue (Colaborador Especial): Eu entendi perfeitamente o recado do Dr. Francisco, para nós homens, um remédio barato e nem precisa comprar nas farmácias, que é ser mais compreensivo e mais companheiro com as esposas. Muito obrigado pelo programa, eu aprendi bastante. Dr. Francisco Alves (Ginecologista): Eu agradeço novamente por mais um convite. Esse tema é do interesse de muitas mulheres e me coloco à disposição para dar palestras e esclarecimentos, pode ser em igrejas ou em qualquer lugar que possa juntar um bom número de mulheres. Muito obrigado. Adriana Araújo: Falamos com um profissional muito humano, excelente médico ginecologista e pessoa. Eu fico feliz em poder dizer que todas as perguntas que eu recebi e mais outras, todas foram respondidas com maestria, tiramos nossas dúvidas e quero agradecer imensamente pelos esclarecimentos. Cada vez mais inteligente e solidário, muito obrigado ao Dr. Francisco. Agradeço ao meu fiel colaborador, sempre contribuindo com esse trabalho por acreditar que é uma prestação de serviços, informações necessárias e quase fora do alcance do trabalhador rural e das pessoas da cidade, eu agradeço ao amigo Manuel Wambergue. Aqui nós finalizamos esse trabalho e esperamos estar juntos na próxima oportunidade.
Não ficou uma pergunta sem resposta. Tudo foi respondido com muita calma
e com uma linguagem altamente acessível.
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